02 Agosto 2021
Entrevista com o dominicano padre Jesús Zaglul Criado sobre a figura do fundador dos jesuítas cuja memória litúrgica se celebra hoje: “Era um sonhador, um peregrino, que olhava o amor de Deus na sua vida e nos outros por descobrir que Deus se comunica conosco, fala conosco”.
A reportagem é de Manuel Cubías, publicada por Vatican News, 31-07-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Santo Inácio de Loyola é uma figura poderosa que chama atenção dos jovens de hoje. A afirmação é de Jesús Zaglul Criado, jesuíta da República Dominicana, assistente para o Norte América Latina e conselheiro geral do geral da Companhia de Jesus, que apresenta a figura do santo fundador no dia em que a Igreja celebra a sua memória. Para destacar a ligação das novas gerações com Santo Inácio, padre Zaglul Criado identifica quatro traços de seu estilo de vida:
O jesuíta dominicano identifica uma característica fundamental da vida de Inácio: “Era um grande sonhador, tanto no seu sonho de se tornar cavaleiro quanto, após a sua conversão, no sonho de seguir Jesus fazendo coisas ainda maiores que os santos, e também no sonho de reunir um grupo de companheiros para tornar esse seguimento mais transformador e para enfrentar todos os desafios que tinha que enfrentar, como a viagem e a prisão".
Uma segunda característica, Zaglul enfatiza, é a capacidade de Inácio de enfrentar os desafios. "Ele coloca toda a sua paixão e os seus meios práticos para realizar ideias e desejos. É um longo processo que o leva de Loyola a Manresa, a Roma, a Jerusalém ... Santo Inácio nem sempre foi compreendido pelas pessoas do seu tempo, no início encontrou muitas dificuldades por causa da novidade de suas propostas”.
Em sua autobiografia, Santo Inácio se define como "o peregrino", como alguém "que estava sempre em viagem e quer realizar seus sonhos", por exemplo, quando vai a Jerusalém, porque quer seguir os passos de Jesus, ele arrisca a vida porque o navio em que viajava sofre um naufrágio. Nisso ele se assemelha muito a São Paulo porque experimenta uma mudança radical em sua vida e é capaz de deixar tudo. O santo de Loyola aos poucos foi percebendo as possibilidades reais e decidiu com seus companheiros "colocar-se a serviço do Papa e ir aonde ele os quisesse enviar".
Santo Inácio descobriu que a missão a que se sentia chamado devia ser desempenhada com um grupo, e este grupo se chamava “amigos no Senhor”, explica o padre Zaglul. E acrescenta: “É um grupo de amigos que agem com grande liberdade, muito afeto, e embora vivam separados, são muitos os projetos que os unem (...) e o que une os sete primeiros companheiros é a experiência do amor de Deus”. A experiência dos Exercícios Espirituais lhes permitirá ter uma atitude constante de discernimento, para ver onde Deus os chama em sua vida, como indivíduos e como grupo.
O Padre Zaglul afirma que profundidade interior não é apenas a capacidade de refletir e olhar para a própria vida, mas "a capacidade de olhá-la à maneira de Jesus, de olhar para o amor de Deus em nós e de descobrir que Deus se comunica conosco, que Deus fala conosco". “Acredito que Inácio foi o descobridor da inteligência emocional, porque percebeu que Deus nos fala por meio das emoções”, diz o jesuíta. Inácio descobre “como os sentimentos de Deus, os impulsos que nos movem para grandes coisas, para coisas boas, estão sempre ligados a uma alegria que permanece, enquanto os enganos às vezes se escondem sob a aparência de uma alegria falsa e superficial”.
A alegria é o elemento que marca o caminho de Deus, a alegria suscita sempre uma plenitude e essa plenitude está ligada a uma dedicação generosa. O santo descobre como Jesus é a fonte da alegria. Nesse sentido, os Exercícios Espirituais são aquele caminho de encontro pessoal com Deus. “A experiência interior sempre nos leva ao seguimento de Jesus”, afirma o Jesuíta. Não se trata de imitá-lo e fazer o que ele fez, mas de segui-lo e descobrir que nos deu o seu “espírito que nos move a responder ao seu chamado. Como amigos, como grupo, como comunidade e pela profundidade do encontro conosco e com a pessoa de Jesus, ele nos envia a transformar este mundo”.
“O que sempre me marcou até hoje é o poder do encontro pessoal com Jesus na vida de Inácio. É a pessoa, a figura, a vida, a história de Jesus que marca a mudança radical no peregrino de Loyola”, destaca o padre Zaglul. Relembra de um episódio da autobiografia de Inácio, um encontro com uma pessoa que ele chama de "a senhora de muitos dias". Inácio conta a história de uma senhora idosa que lhe deu conselhos quando ele estava perdido, desolado, vivia momentos de tristeza, de confusão interior, de escrúpulos. Ela lhe disse: "Rogue a Deus que nosso Senhor Jesus Cristo se manifeste a você, que se mostre a você, que apareça a você". Inácio respondeu: “Pode o nosso Senhor Jesus Cristo aparecer para mim?”. No final do terceiro capítulo da autobiografia, o santo escreve que ninguém o ajudou tanto nos assuntos espirituais quanto essa senhora.
“Este é o segredo não só da vida de Inácio, mas também dos Exercícios Espirituais. Porque se olharmos para os Exercícios Espirituais somos testemunhas, vemos como Jesus viveu a sua vida, não apenas a sua morte e ressurreição por nós”, diz o Padre Zaglul.“Inácio insiste nos Exercícios no fato que Jesus “por amor a mim se encarnou e se fez homem. Para que, conhecendo-o, você o ame mais e o siga mais.” Eu acredito que este seja o centro, o coração de Inácio e da Companhia de Jesus que ele fundou. O seguimento de Jesus, não apenas a imitação, é um seguimento que se baseia em saber que Jesus viveu sua vida, cada momento de sua vida por mim, e que também posso viver aquele momento com ele na oração, e desta forma forma-se uma relação de amizade”.
Um outro momento crucial são as contemplações e as conversas a que Santo Inácio convida através dos Exercícios Espirituais: “São as próprias contemplações da Encarnação, antes e depois do nascimento, nas quais Deus põe o seu olhar sobre toda a humanidade. Um olhar de Deus que decide se encarnar, assumir radicalmente a nossa humanidade”. Este fato, para Santo Inácio, será um elemento central, também na sua relação com o mundo, porque também valem para ele as palavras de Teilhard de Chardin, pronunciadas muitos anos depois: “Para quem tem olhos para ver, não há não há nada neste mundo que seja profano. Tudo é marcado pela presença de Deus”.
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Inácio de Loyola, o santo que revela aos jovens os sentimentos de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU